domingo, 23 de outubro de 2011

ATENDIMENTO PSIQUIÁTRICO EM CACEQUI-RS


1)      O melhor relacionamento com o paciente, na minha opinião, ocorre quando este consegue perceber que o profissional está realmente interessado em, primeiramente, entender e em, posteriormente, resolver o problema trazido ou apresentado por ele e/ou pelos familiares ou acompanhantes. Tanto para pacientes internados quanto para pacientes ambulatoriais, a escuta atenta, o raciocínio rápido (embora não precipitado), a curiosidade a respeito dos sintomas, sinais, aspectos gerais da vida e acontecimentos, tanto recentes quanto passados,  são de ampla importância para a formulação ao menos de uma ideia daquilo que ocorre com o paciente, sua dinâmica dentro e fora da doença, sintomas e sinais principais e enquadramento ao menos em alguma síndrome, quando o diagnóstico inicialmente é difícil. Estes são os aspectos  cruciais para a conduta mais adequada, tanto em termos psicodinâmicos quanto psicofarmacológicos. Se a entrevista for direcionada adequadamente pelo profissional e bem objetiva (como deve sempre ser), estes aspectos relatados ficam evidentes em poucos minutos e as condutas, tanto psicodinâmicas quanto psicofarmacológicas, são tomadas de acordo com aquilo que foi raciocinado em cima do todo da avaliação. A confiabilidade também se dá quando o paciente e familiares, através do resultado daquilo que foi observado pelo profissional, avaliam que seu quadro clínico está demonstrando evolução favorável. Outro aspecto importante a ser sempre considerado é a adequação, em termos de custos, do tratamento. Prescrever medicamentos e indicar tratamentos que não estão ao alcance da instituição (no caso de pacientes internados) ou que não estão ao alcance dos pacientes ambulatoriais, por mais modernos que possam ser, de nada adiantam. Até porque é perfeitamente plausível praticar uma psiquiatria que gera bons resultados com tratamentos relativamente baratos e mesmo gratuitos para os pacientes. Somente quando tratamentos mais onerosos estão ao alcance do paciente ou da instituição, é que devem ser indicados (ou em casos de extrema necessidade, o que ocorre com pouca frequência). Também é necessária a dedicação de explicar ao paciente a impressão que o profissional está tendo a respeito de seu caso e do quanto sua doença está afetando sua vida, reforçando a necessidade do tratamento e dos benefícios que ele trará à sua vida, já que sempre o objetivo do tratamento psiquiátrico é o fortalecimento da estrutura psíquica para reencontrar a família, o trabalho, os amigos e a si mesmo com a mente mais equilibrada e saudável.

2)      Felizmente um bom atendimento, levando-se em consideração os aspectos relatados na resposta anterior, não depende necessariamente do tempo (em minutos ou horas) para demonstrar sua eficácia. O sucesso ou o fracasso de um transplante cardíaco ou mesmo de uma apendicectomia, por exemplo, não dependem diretamente do número de minutos ou horas em que foram realizados. Assim, o que realmente se deve levar em consideração para classificar qualquer atendimento como satisfatório é, primeiramente, a cordialidade, a boa educação, a simplicidade, a linguagem acessível ao paciente e familiares e a capacidade de transmitir da forma mais adequada e convincente possível por que aquele paciente deverá tomar tal remédio, por que deverá mudar algumas de suas condutas, por que deve seguir em acompanhamento psiquiátrico, por que deverá ficar internado (quando é o caso) e qual é a expectativa de melhora (prognóstico) caso o paciente se disponha a verdadeiramente seguir as recomendações que lhe estão sendo dadas e seguir a prescrição que está sendo indicada. Como a demanda, tanto ambulatorial quanto hospitalar, é cada vez maior em qualquer lugar (sendo que um dos motivos é a atual maior facilidade ao atendimento psiquiátrico especializado, o que felizmente também está ocorrendo em Cacequi), os próprios pacientes não toleram avaliações demoradas e pouco objetivas nem querem ficar na sala de espera por várias dezenas de minutos ou mesmo várias horas. Naturalmente algumas avaliações são mais demoradas que outras, e isto apenas a circunstância é que determinará, tanto para pacientes ambulatoriais quanto internados. De nada adiantará o profissional, ou até mesmo o paciente, tentarem prolongar algo que já ficou claro. Se uma avaliação for conduzida de maneira centrada, objetiva, séria (embora não antipática) e de maneira empática, e se as condutas forem tomadas de acordo com o que recomenda a literatura psiquiátrica mundial (que em geral tem à frente a psiquiatria norteamericana, já que muitos dos autores e das pesquisas em psiquiatria mais importantes são oriundos dos Estados Unidos), o tratamento tem grandes chances de ser eficaz. Os CRMs e o CFM (assim como quaisquer outros Conselhos profissionais, creio) não relacionam jamais eficácia do atendimento ao tempo em que ele ocorre. Pontualidade é, logicamente, importante, embora não decisiva para o desfecho do tratamento. Estes aspectos todos, aliados aos anos de experiência do profissional, é que determinam geralmente os resultados do tratamento psiquiátrico (desde que o paciente realmente siga o que foi recomendado).

3)       As acomodações psiquiátricas do ISEV evoluíram ao longo destes dois anos. Verificou-se a inviabilidade de acomodações masculinas e femininas juntamente, o que ainda ocorre em alguns hospitais gerais que são referência para tratamento psiquiátrico na região. Foi criada a ala psiquiátrica masculina, com possibilidade de internação psiquiátrica feminina na ala de clínica geral. Os funcionários em geral já acumulam pouco mais de dois anos com experiência direta diária com os pacientes, o que certamente fez com que o atendimento dos pacientes psiquiátricos tenha evoluído e se tornado referência, o que é algo digno de méritos para um hospital geral em uma cidade pequena como Cacequi (que só recebeu incentivo para internações psiquiátricas e atendimento ambulatorial graças à visão de seus gestores da necessidade crescente de atenção às morbidades psiquiátricas e do ideal de ampliação da prestação de atendimentos à saúde mental).

4)      Creio que as necessidades gerais dos pacientes psiquiátricos, desde o serviço de  recepção às orientações à alta estão sendo feitos da melhor maneira possível, já que até o momento foram muito poucos os pacientes ou familiares que reclamaram que o serviço prestado como um todo não foi foi bom. E eles (paciente e familiares) são o verdadeiro termômetro que indica se o atendimento prestado está ou não na temperatura adequada. Vários pacientes já relataram que estão sendo muito bem atendidos. Sempre haverá alguém insatisfeito, pois obviamente nunca nenhuma instituição ou pessoa conseguirá agradar a todos.

5)      Creio estar de acordo com as possibilidades do hospital e de sua equipe. Mesmo assim, pacientes psiquiátricos são também são imprevisíveis e por vezes oferecem riscos à equipe. Quando isto ocorre, de imediato deve-se analisar o caso para verificar qual a melhor conduta a ser tomada. Embora a decisão de manter a porta da unidade chaveada e de haver barreiras físicas para prevenir fugas (comuns até mesmo em hospitais psiquiátricos) não seja consenso tanto entre instituições quanto entre profissionais, creio ser indispensável (principalmente em razão de pacientes psicóticos, mas não apenas) 

6)      Os pontos positivos são todos aqueles já descritos nas respostas anteriores.

7)      Os pontos negativos (ou situações negativas) muitas vezes são gerados pelos próprios pacientes, que eventualmente podem levar à equipe a agir de forma mais incisiva ou mesmo intrusiva e enérgica em resposta à determinada atitude ou conduta do paciente (nada que não faça parte da rotina psiquiátrica hospitalar).

8)      Inegavelmente o serviço de um terapeuta ocupacional (mesmo que não diariamente) traria progressos ao serviço no sentido de orientar e proporcionar aos pacientes atividades recreacionais que certamente serviriam de estímulo à permanência durante os dias previstos de hospitalização. O próprio terapeuta ocupacional poderia requisitar o mínimo de recursos materiais (que possivelmente não necessitariam de grandes investimentos financeiros para serem adquiridos) que seriam necessários para poder realizar o trabalho da maneira mais apropriada.  
  
                                                                                               Fernando P. Almeida
                                                                                                    Psiquiatra ISEV    
  

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