sexta-feira, 18 de maio de 2012

MANICÔMIOS NECESSÁRIOS

                                 
No dia 18 de maio o Brasil relembrou a modificação que houve nas últimas décadas no cuidado aos doentes mentais. O modelo hospitalocêntrico que houve durante várias décadas, que estava severamente ultrapassado, desleixado e cruel, foi sendo gradativamente banido. Formou-se uma rede de atendimento em saúde mental que pode-se dizer bem estruturada país afora, representada principalmente pelos Centros de Atenção Psicossociais, conhecidos como CAPS, que prestam atenção às doenças psiquiátricas gerais em adultos, adolescentes, crianças e dependência de drogas.
            Os hospitais psiquiátricos no passado eram tidos como depósitos de doentes mentais, em que havia muito desrespeito aos direitos humanos e tratamentos muito pouco eficazes para a recuperação dos pacientes. Aos poucos, muitos leitos psiquiátricos foram sendo fechados e o tratamento para o doente mental sofreu considerável evolução. A reforma psiquiátrica trouxe vários aspectos importantes neste sentido.
            Cabe lembrar que, apesar de terem existido absurdos durante muitos anos nos manicômios, onde estavam as autoridades de saúde principalmente nos árduos anos 60, 70 e parte dos 80? Por que este modelo crítico de atendimento psiquiátrico hospitalar vigorou em algumas instituições durante muitos anos?  O modelo antiquado de atendimento de saúde mental hospitalar em algumas instituições do Brasil só veio à tona no período da Abertura Política, no governo Figueiredo, na primeira metade dos anos 80. Nesta época, a RBS TV foi pioneira em levar ao ar no extinto programa RBS Documento, um retrato de como estava o hospital psiquiátrico São Pedro, na capital gaúcha, inaugurado em 1884 e um dos principais manicômios do país.
            A reforma psiquiátrica não contava, no entanto, com o surgimento do epidêmico crack, que hoje, por si só, ordena urgentes reformas na reforma psiquiátrica. Devido à falta de leitos psiquiátricos para internação de dependentes desta devastadora droga, fechar leitos nos hospitais psiquiátricos ainda existentes ou, pior ainda, fechar tais hospitais hoje representaria um retrocesso. Os manicômios têm ainda uma grande importância para os doentes mentais, desde que não utilizados para confinamento ou institucionalização de  doentes nem que desrespeitem os direitos humanos. Alguns doentes mentais, com ausência de juízo crítico e gravemente doentes, ainda necessitam, sim, de que as portas estejam trancadas e até mesmo serem contidos fisicamente, quando necessário, até que consigam melhorar. Não há nada de desumano nisto. Estes aspectos fazem parte do tratamento da doença mental e serão usados sempre que necessário, principalmente em casos de pacientes acentuadamente psicóticos e ou violentos, visando unicamente à proteção, não só do paciente quanto da família e da equipe de tratamento. Estudos recentes da Universidade Federal de São Paulo demonstraram que o tratamento involuntário não é menos eficaz que o voluntário no tratamento de drogas, tanto legais quanto ilegais, por exemplo, como cita o livro "O tratamento do usuário de crack", da Ed. Artmed, 2ª ed. de 2012.
            Assim, o dia da luta antimanicomial deve sempre ser um dia não somente de comemorações, mas de debates e reflexões de como anda a assistência à saúde mental hospitalar e, em razão do surgimento de novos e graves problemas de saúde mental, quais podem ser as melhores estratégias para seu combate.

                                                                                  Fernando P. Almeida - Psiquiatra
         

Nenhum comentário:

Postar um comentário