quinta-feira, 12 de julho de 2012

ALCOOLISMO NO BRASIL


Em pesquisa qualitativa realizada recentemente pelo Ministério da Saúde junto a
jovens do país (Pesquisa Projeto Novas Políticas no Consumo de Bebidas Alcoólicas –
MS – 2007),  foi possível perceber que a questão está enraizada na cultura brasileira.
Uma das principais constatações da pesquisa é que o consumo de bebida alcoólica no
Brasil é cada vez mais banalizado e como se não bastasse, muitas vezes estimulado
dentro da própria família, seja diretamente, quase como um rito de passagem para a
vida adulta, seja indiretamente, nos exemplos dados por pais e familiares ao
consumirem bebidas alcoólicas indiscriminadamente na frente de crianças e
adolescentes. Mais uma vez, o consumo se mostra como um hábito cultural. 
Para agravar ainda mais o quadro, a indústria da bebida alcoólica é uma das mais
fortes do mercado nacional, sendo que  as mesmas detêm grandiosas verbas
publicitárias, aplicadas na mídia de massa sem qualquer tipo de cuidado com horário
ou faixa etária da programação. No ano de 2006, o investimento em mídia da
indústria de bebidas alcoólicas foi de  R$ 907 milhões. Apenas a AMBEV, maior
anunciante do segmento, investiu quase metade desse montante (R$ 451,9 milhões).
Esses números refletem não apenas uma estratégia agressiva de comunicação, mas
também uma necessidade de aumentar o volume de vendas. 
Aliado à forte presença na mídia está o  conteúdo das mensagens divulgadas pelas
indústrias. A via de regra o consumo de bebida na publicidade está sempre associado
às situações de glamour,  alegria, festa. Há não muito tempo atrás, até mesmo
elementos infantis eram usados para a venda de bebidas (tartaruga, caranguejo...),
todos esses elementos tem forte impacto em crianças e adolescentes, que passam a
criar um comportamento de simpatia pelas  marcas de bebidas alcoólicas. O uso de
personalidades também cria um ambiente  favorável e estimulante para o consumo,
tornando essa ou aquela bebida, mais simpática, mais gostosa ou a melhor. 
O problema é que todas essas mensagens, difundidas a todo o momento e em
qualquer canto do país, acabam por esconder a realidade que está por trás das
bebidas alcoólicas. As conseqüências do consumo desenfreado são diluídas na
exposição constante dessas mensagens que valorizam o álcool e seus consumidores, e
os problemas causados para a saúde pública só tendem a aumentar. 
Fonte do texto: Ministério da Saúde

terça-feira, 29 de maio de 2012

A EPIDEMIA CHAMADA CRACK

   Praticamente nos últimos dez anos o Brasil viu uma droga atingir os usuários e a sociedade em geral de uma forma ainda sem precedentes. O crack espalhou-se pelo Brasil de maneira rápida e devastadora, levando seus usuários a caminhos muitas vezes sem volta. Em razão da intensidade e rapidez de seus efeitos e, com isto, a intensa fissura por mais uma e outra dose ou pedra, essa droga está mudando até mesmo os conceitos da sociedade em relação às outras drogas ilícitas (principalmente em relação à Cannabis sativa - maconha -), já que alguns estudos relataram que o bloqueio de receptores canabinoides do cérebro diminuiu a fissura pela cocaína e pelo crack. No dia 29 de maio um anteprojeto com novas propostas foi aprovado em Brasília e, se for aprovado em esferas superiores, descriminalizará o porte de pequenas doses de drogas ilícitas. O plantio, desde que para consumo, também não será mais considerado crime. É um sinal de que algo está mudando e que a visão do passado em relação às drogas está realmente (ou mesmo redundantemente) ultrapassada, principalmente depois do advento do crack. E quem também chegou à conclusão de que a guerra contra as drogas não tem o desfecho que se espera  foi o próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chefe da Comissão Global de Política sobre Drogas instituída pela ONU.
    Estudos também demonstraram que há forte relação do crack com outras drogas, que serviriam como porta de entrada e/ou potencializariam perigosamente seus efeitos e estas drogas, para espanto de muitos, não são as ilícitas, como a maconha, mas sim as lícitas (o álcool e, em grau menos prejudicial o cigarro, em razão de praticamente não produzir efeitos mentais consideráveis). Ou seja, para um país atacar devidamente um grande problema de saúde pública chamado crack, também deve priorizar o combate às drogas lícitas, que contam com grande apoio da sociedade e da mídia, já que no Brasil a bebida alcoólica, que traz imensos problemas à sociedade de uma forma geral, é amplamente tolerado como substância para a socialização.
    Diante da dimensão do problema, as redes de atendimento ambulatorial e hospitalar ainda na verdade são insuficientes e contam muitas vezes com profissionais despreparados. Grande parte dos dependentes de drogas são tratados em comunidades terapêuticas que não recebem um centavo de apoio do Governo Federal devido à sua estrutura, inadequada em relação a vários parâmetros preconizados pelo Ministério da Saúde, mas nem por isso menos eficazes na recuperação de muitas pessoas.
   Hoje no Brasil já é descabido falar em fechamento de hospitais e de leitos psiquiátricos, principalmente quando se leva em consideração a deficiente estrutura hospitalar para internações psiquiátricas existente, tanto em hospitais gerais quanto mesmo em manicômios, no que se refere a número de leitos e equipe especializada. Segundo a OMS, o número ideal de leitos para transtornos mentais em um país é referente a 0,5% de sua população, o que no Brasil se situaria em torno de 900 mil leitos. O país conta, no entanto, com menos de 5% deste número, sendo que uma das justificativas seria a rede ambulatorial de atendimento à saúde mental que foi melhorada no país principalmente ao longo das duas últimas décadas, com o surgimento dos CAPS (Centro de Atenção Psicossociais). Mesmo assim, a realidade não é animadora e o país necessita urgentemente de novas políticas de saúde pública em relação aos transtornos psiquiátricos, principalmente depois da proliferação do crack.     
      

sexta-feira, 18 de maio de 2012

MANICÔMIOS NECESSÁRIOS

                                 
No dia 18 de maio o Brasil relembrou a modificação que houve nas últimas décadas no cuidado aos doentes mentais. O modelo hospitalocêntrico que houve durante várias décadas, que estava severamente ultrapassado, desleixado e cruel, foi sendo gradativamente banido. Formou-se uma rede de atendimento em saúde mental que pode-se dizer bem estruturada país afora, representada principalmente pelos Centros de Atenção Psicossociais, conhecidos como CAPS, que prestam atenção às doenças psiquiátricas gerais em adultos, adolescentes, crianças e dependência de drogas.
            Os hospitais psiquiátricos no passado eram tidos como depósitos de doentes mentais, em que havia muito desrespeito aos direitos humanos e tratamentos muito pouco eficazes para a recuperação dos pacientes. Aos poucos, muitos leitos psiquiátricos foram sendo fechados e o tratamento para o doente mental sofreu considerável evolução. A reforma psiquiátrica trouxe vários aspectos importantes neste sentido.
            Cabe lembrar que, apesar de terem existido absurdos durante muitos anos nos manicômios, onde estavam as autoridades de saúde principalmente nos árduos anos 60, 70 e parte dos 80? Por que este modelo crítico de atendimento psiquiátrico hospitalar vigorou em algumas instituições durante muitos anos?  O modelo antiquado de atendimento de saúde mental hospitalar em algumas instituições do Brasil só veio à tona no período da Abertura Política, no governo Figueiredo, na primeira metade dos anos 80. Nesta época, a RBS TV foi pioneira em levar ao ar no extinto programa RBS Documento, um retrato de como estava o hospital psiquiátrico São Pedro, na capital gaúcha, inaugurado em 1884 e um dos principais manicômios do país.
            A reforma psiquiátrica não contava, no entanto, com o surgimento do epidêmico crack, que hoje, por si só, ordena urgentes reformas na reforma psiquiátrica. Devido à falta de leitos psiquiátricos para internação de dependentes desta devastadora droga, fechar leitos nos hospitais psiquiátricos ainda existentes ou, pior ainda, fechar tais hospitais hoje representaria um retrocesso. Os manicômios têm ainda uma grande importância para os doentes mentais, desde que não utilizados para confinamento ou institucionalização de  doentes nem que desrespeitem os direitos humanos. Alguns doentes mentais, com ausência de juízo crítico e gravemente doentes, ainda necessitam, sim, de que as portas estejam trancadas e até mesmo serem contidos fisicamente, quando necessário, até que consigam melhorar. Não há nada de desumano nisto. Estes aspectos fazem parte do tratamento da doença mental e serão usados sempre que necessário, principalmente em casos de pacientes acentuadamente psicóticos e ou violentos, visando unicamente à proteção, não só do paciente quanto da família e da equipe de tratamento. Estudos recentes da Universidade Federal de São Paulo demonstraram que o tratamento involuntário não é menos eficaz que o voluntário no tratamento de drogas, tanto legais quanto ilegais, por exemplo, como cita o livro "O tratamento do usuário de crack", da Ed. Artmed, 2ª ed. de 2012.
            Assim, o dia da luta antimanicomial deve sempre ser um dia não somente de comemorações, mas de debates e reflexões de como anda a assistência à saúde mental hospitalar e, em razão do surgimento de novos e graves problemas de saúde mental, quais podem ser as melhores estratégias para seu combate.

                                                                                  Fernando P. Almeida - Psiquiatra
         

quarta-feira, 16 de maio de 2012

SAIBA RECONHECER A DEPRESSÃO


           A depressão é uma das doenças psiquiátricas mais frequentes no mundo.  Acomete os indivíduos em suas mais diversas idades, da infância à velhice. Frequentemente ela é a causa de incapacitações escolares, acadêmicas e de trabalho, as quais são decorrentes diretamente dos sintomas que caracterizam o seu quadro clínico.   No entanto, nem sempre o indivíduo ou seus familiares conseguem reconhecer os sintomas, que por vezes se instalam lentamente. Normalmente quando estes sintomas aumentam de intensidade, ficam mais evidentes, sendo então percebidos mais facilmente.
      A Organização Mundial de Saúde (OMS) divide a depressão basicamente em três tipos: leve, moderada e grave, de acordo com a intensidade dos sinais e sintomas apresentados, que podem ser muito variáveis entre cada pessoa.
No entanto, algumas das queixas mais frequentemente relatadas pelos pacientes são: tristeza, apatia, humor deprimido, desânimo, sensação de desesperança, dificuldades de memória e de concentração, falta de vontade para realizar atividades diárias, irritabilidade, agressividade, ansiedade, insônia ou sono excessivo, falta ou excesso de apetite, diminuição do desejo sexual, fadiga, isolamento e intolerância a barulho.
A OMS determina em cerca de duas semanas o período de tempo mínimo para que os sinais e sintomas possam realmente caracterizar uma depressão.
Quando o quadro clínico é grave, frequentemente o paciente possui pensamentos suicidas, alucinações visuais (comumente enxerga vultos), auditivas (ouve alguém chamá-lo ou vozes que o insultam) e delírios de desvalia (convence-se de que é totalmente inútil e que não tem nenhum valor para nada e para ninguém).
O tratamento deve ser iniciado tão logo se perceba que o quadro clínico é compatível com depressão. Nos casos leves, o uso de medicamentos nem sempre é necessário, pois o paciente pode melhorar apenas com medidas terapêuticas não farmacológicas, tais como os diferentes métodos de psicoterapia.
Nos quadros moderados e graves, os medicamentos antidepressivos são praticamente indispensáveis. Atualmente há uma ampla gama de antidepressivos disponíveis (o que permite adequá-los ao perfil de cada paciente), além de serem comprovadamente eficazes.
Infelizmente muitos quadros de depressão não tratados ou, ainda, tratados inadequadamente, culminam tanto com o suicídio quanto com o homicídio.
Assim, sempre que os sinais e sintomas sugerirem um episódio depressivo, deve-se procurar ajuda profissional para que o indivíduo possa, com o tratamento, retornar o mais breve possível ao seu funcionamento e ao seu estado de humor normais. 

sábado, 12 de maio de 2012

FALTAM LEITOS PSIQUIÁTRICOS NO BRASIL

        Segundo levantamento feito pelo jornal Folha de São Paulo, baseado em parâmetros do Ministério da Saúde, o Brasil possui menos da metade dos leitos psiquiátricos públicos que o necessário, fator este que prejudica muito o tratamento de usuários de crack, já que a internação é um importante recurso terapêutico contra a epidemia desta droga no país. O número próximo ao ideal de leitos psiquiátricos seria de 85 mil, mas o país conta com apenas 38,5 mil. A reforma psiquiátrica, implantada no Brasil principalmente a partir do início da década passada, com certeza trouxe aspectos bons ao paciente psiquiátrico brasileiro, principalmente no que diz respeito à institucionalização de doentes psiquiátricos, objetivando à reinserção dos mesmos à família e à sociedade, sempre que possível. No entanto, a mesma política da reforma psiquiátrica preconizou a redução de vagas para internação. Com o grande aumento da demanda nos últimos anos, motivada grandemente pela epidemia do crack, serão abertos 3.604 novos leitos em hospitais gerais, número de leitos este que o coordenador da Câmara Técnica de Psiquiatria do Conselho Federal de Medicina, dr. Emmanuel Cavalcanti, considera "ridículo" e "representa a ausência de um segmento da estrutura especializada para tratar os usuários de drogas".

Fonte: Conselho Regional de Medicina do RS