terça-feira, 29 de maio de 2012

A EPIDEMIA CHAMADA CRACK

   Praticamente nos últimos dez anos o Brasil viu uma droga atingir os usuários e a sociedade em geral de uma forma ainda sem precedentes. O crack espalhou-se pelo Brasil de maneira rápida e devastadora, levando seus usuários a caminhos muitas vezes sem volta. Em razão da intensidade e rapidez de seus efeitos e, com isto, a intensa fissura por mais uma e outra dose ou pedra, essa droga está mudando até mesmo os conceitos da sociedade em relação às outras drogas ilícitas (principalmente em relação à Cannabis sativa - maconha -), já que alguns estudos relataram que o bloqueio de receptores canabinoides do cérebro diminuiu a fissura pela cocaína e pelo crack. No dia 29 de maio um anteprojeto com novas propostas foi aprovado em Brasília e, se for aprovado em esferas superiores, descriminalizará o porte de pequenas doses de drogas ilícitas. O plantio, desde que para consumo, também não será mais considerado crime. É um sinal de que algo está mudando e que a visão do passado em relação às drogas está realmente (ou mesmo redundantemente) ultrapassada, principalmente depois do advento do crack. E quem também chegou à conclusão de que a guerra contra as drogas não tem o desfecho que se espera  foi o próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chefe da Comissão Global de Política sobre Drogas instituída pela ONU.
    Estudos também demonstraram que há forte relação do crack com outras drogas, que serviriam como porta de entrada e/ou potencializariam perigosamente seus efeitos e estas drogas, para espanto de muitos, não são as ilícitas, como a maconha, mas sim as lícitas (o álcool e, em grau menos prejudicial o cigarro, em razão de praticamente não produzir efeitos mentais consideráveis). Ou seja, para um país atacar devidamente um grande problema de saúde pública chamado crack, também deve priorizar o combate às drogas lícitas, que contam com grande apoio da sociedade e da mídia, já que no Brasil a bebida alcoólica, que traz imensos problemas à sociedade de uma forma geral, é amplamente tolerado como substância para a socialização.
    Diante da dimensão do problema, as redes de atendimento ambulatorial e hospitalar ainda na verdade são insuficientes e contam muitas vezes com profissionais despreparados. Grande parte dos dependentes de drogas são tratados em comunidades terapêuticas que não recebem um centavo de apoio do Governo Federal devido à sua estrutura, inadequada em relação a vários parâmetros preconizados pelo Ministério da Saúde, mas nem por isso menos eficazes na recuperação de muitas pessoas.
   Hoje no Brasil já é descabido falar em fechamento de hospitais e de leitos psiquiátricos, principalmente quando se leva em consideração a deficiente estrutura hospitalar para internações psiquiátricas existente, tanto em hospitais gerais quanto mesmo em manicômios, no que se refere a número de leitos e equipe especializada. Segundo a OMS, o número ideal de leitos para transtornos mentais em um país é referente a 0,5% de sua população, o que no Brasil se situaria em torno de 900 mil leitos. O país conta, no entanto, com menos de 5% deste número, sendo que uma das justificativas seria a rede ambulatorial de atendimento à saúde mental que foi melhorada no país principalmente ao longo das duas últimas décadas, com o surgimento dos CAPS (Centro de Atenção Psicossociais). Mesmo assim, a realidade não é animadora e o país necessita urgentemente de novas políticas de saúde pública em relação aos transtornos psiquiátricos, principalmente depois da proliferação do crack.     
      

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